segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A Partir de Agora

(Dezembro de 1999)


A partir de agora, não chorarei mais,
Não serei mais aquela pessoa cega.
Não pensarei mais como um inocente.
Não sairei correndo atrás de trégua.

A partir de agora, não chorarei mais,

Por pessoas que são tudo para mim
E que não retornam o que sinto.
Me fazendo sofrer tanto assim.

A partir de agora, não chorarei mais,

Ensopando meu travesseiro amigo,
Que sem ter culpa, paga a conta,
E mesmo assim está sempre comigo.

A partir de agora, não chorarei mais,

Lembrando das feridas da vida,
Que já se curaram, mas deixaram cicatrizes,
Como furos de pregos em madeira polida.

A partir de agora, não chorarei mais,

Pelo que tanto lutei e não consegui,
Fazendo me sentir inferior aos outros,
Quando eles superiores nunca vi.

A partir de agora, não chorarei mais,

Pelo mocinho do filme que acaba sozinho,
Quando na realidade ele está com todos.
E eu com ninguém, largado em meu ninho.

A partir de agora, não chorarei mais,

Pela despedida que acaba voltando.
Pelos problemas que vejo todo dia.
Pela confusão de pensar estar amando.

A partir de agora, não chorarei mais,

Como choro agora pelo o que escrevo.
Pelo esforço de criar estas linhas,
Pensando que isso, a vocês eu devo.

A partir de agora, não chorarei mais,

Pela história daquele livro que comoveu,
Quando na verdade ela nunca existiu,
E quando junto com ela meu coração sofreu.

A partir de agora, apenas, não chorarei mais,

Porque não sentirei mais,
Não verei mais nada, não ouvirei,
Não farei mais nada, pensar jamais.

A partir de agora, não amarei mais.

Se acabar com tudo isso, nunca mais amarei,
E se conseguir nunca mais amar,
Com certeza, nunca mais chorarei.


:-(

Vivendo

(Maio de 1999)


Viver é preciso e ninguém negará
Que é difícil conseguir
Viver bem sem se deparar
Com socos que nos faz cair,
Com mágoas que nos faz chorar,
Com alegrias que nos faz sorrir,
Com belezas que nos faz amar.

A vida é para nós seres humanos,

Como um grande pequeno momento.
Usado apenas para desfrutar dos bens mundanos,
Antes de queimar no inferno ou brilhar no firmamento.

A vida, quase sempre, nos dá como escolha dois caminhos:

Um é o que nos leva por entre tristezas e sofrimentos.
E o outro pela força do amor, da alegria e do carinho.
A maioria de nós, passa pelos dois, passa a ter conhecimento.

Imagine uma criança: bela e sadia.

A mais pura expressão do amor que pode haver,
Pois sendo a alma da inocência, não demonstra ironia,
Não sabe o que é guerra, o que é morte, o que é sofrer.

Mas quando ela passar a conhecer as coisas do mundo,

Irá saber também, o que é dor no coração.
Irá sentir jorrar tristezas do seu íntimo mais profundo.
E só conseguirá vencer, se tiver a ajuda de um irmão.

Falar da vida, às vezes, pode ser muito compensador.

É uma forma de parar para pensar, e ver o que está errado.
Neste ponto, podemos corrigir nossos defeitos.
É um bom momento, para limpar nosso coração.
Mas é também a hora em que nos enchemos de amor,
Pois para vender na vida, é preciso amar e ser amado.
É preciso acabar por completo com todos preconceitos.
Assim, com certeza, viveremos todos em grande compaixão.

Precisamos todo dia, saber a quem estamos amando.

Precisamos todo dia, saber o que estamos vendo.
Precisamos todo dia, saber onde estamos andando.
Só pra termos uma certeza, a de que estamos vivendo.


;-)

Definidos os Destaques do 5º Fentepira

Os Destaques do 5º Fentepira (Festival Nacional de Teatro de Piracicaba) foram anunciados na tarde do último domingo, 28, no Teatro Municipal Dr. Losso Netto. A maratona teatral de nove dias teve a presença de dez grupos na mostra principal, vindos de São Paulo, Santo André, Ribeirão Preto, Sorocaba, Jacareí, Piracicaba, Curitiba, Joinville e Uberlândia. Duas companhias se destacaram: a Mungunzá, de São Paulo, e a Levante, de Sandro André.

Os Troféus-Destaque foram escolhidos por uma comissão debatedora, composta por especialistas em artes cênicas. São eles: o professor do Instituto de Artes da Unesp e doutor em História Social Alexandre Mate; a atriz, arte-educadora e produtora cultural Daniela Biancardi; e Moisés Miastkwosky, diretor de mais de 80 espetáculos teatrais e criador de vários festivais e mostras de teatro. Após a apresentação de cada espetáculo, a comissão se reuniu com as companhias teatrais e com o público para avaliar os aspectos técnicos das montagens, para apontar críticas e fazer sugestões.

Apresentado na quinta-feira, 25, o espetáculo Porque a Criança Cozinha na Polenta, do grupo paulistano Mungunzá, conquistou seis Destaques: Texto Adaptado e Encenação para Nelson Baskerville; Projeto de Iluminação para Wagner Freire; Intérprete para Sandra Modesto; e Espetáculo para Adultos pela Escolha da Comissão Debatedora. Pela direção e criação de partitura expressivo-corporal, Ondina Castilho ficou com o Destaque a Critério da Comissão Debatedora.

A Cia. Levante, de Santo André, que apresentou o espetáculo Bielski no domingo, 21, saiu com cinco Destaques: Texto Original para Antônio Rogério Toscano; Projeto Sonoro para Cristiano Meirelles; Elenco; e com os Destaques Espetáculo para Adultos pela escolha da comissão debatedora e pelo Voto Popular.

Além da Cia. Levante e do Grupo Mungunzá, os Destaques a Critério da Comissão Debatedora foram para o músico Maurício Toco, de Sorocaba, que acompanha o espetáculo O Resumo de Ana com a viola, e para o músico de Jacareí, Paulo Timbé, pelas intervenções dramático-musicais no monólogo Travessia.

Os troféus Destaques Intérprete também ficaram com Paulo Willians (Travessia); Eli André Corrêa (Resumo de Ana); Andréia Malena Rocha (Migrantes), e Renata Torraca (São Jorge e o Dragão).

Pela apresentação do infantil Histórias da Chuva – Gênese, o grupo paulistano Teatro da Gioconda levou os Destaques de Espetáculo para Crianças e adolescentes pela Escolha da Comissão Debatedora e pelo Voto Popular. Da trupe, o ator Daniel Infantini garantiu o Destaque para Projeto de Indumentária.

A comissão debatedora concedeu o Destaque para Projeto Cenográfico a Dino Bernardi, diretor da Cia. Cornucópia de Teatro e responsável pelo espetáculo São Jorge e o Dragão.

ANÁLISE – Para Alexandre Mate, várias proposições estéticas constituíram o Festival. Ele acredita que uma seleção dessa natureza descortina diferentes possibilidades de os produtores culturais entenderem os seus trabalhos.

Sobre o resultado, Mate faz suas considerações: “dois espetáculos foram excelência, tanto é que foram os mais contemplados. Ambos são espetáculos épicos, são teatro de grupos, de pessoas que estão juntas e dividem a criação do espetáculo como um todo. Ambos criaram os seus próprios textos. É uma tendência majoritária que tem se desenvolvido principalmente na cidade de São Paulo. Penso que essas duas obras caracterizam uma probabilidade interessante de uma proposta estético-teatral bastante significativa”.

Já Moisés Miastkwosky diz ter sentido um amadurecimento no Festival. Esta é a sua terceira participação em cinco anos, seja como membro da comissão de seleção ou na comissão debatedora. “O Fentepira é fundamental para Piracicaba e região. É importante para o fazer teatral e para a criação de novos grupos. É um alimento para as companhias participantes, pois a comissão debatedora veio para trazer uma visão mais técnica.”

Estreante em festivais, Daniela Biancardi diz acreditar no espaço do teatro como espaço de compartilhar saberes. Ela lembra que esta característica se fez presente diariamente, quando os atores se reuniam com os debatedores. “Esse Festival segue com a mesma consistência, beleza, tradição e o movimento natural da vida, como o rio de Piracicaba.”

Realizado desde 2006 pela Secretaria Municipal da Ação Cultural, o Fentepira é regulamentado pela lei 6072/2007. São apoiadores a Arcelor Mittal, o Clube Nipo Brasileiro de Piracicaba, a Unimed Cultura e o Centro de Comunicação Social da Prefeitura de Piracicaba. Há ainda as instituições parceiras: Apite! (Associação Piracicabana de Teatro), SP Escola de Teatro, Sesi, Sesc Piracicaba, Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), Tusp (Teatro da Universidade de São Paulo), Senac Piracicaba, NUC-Unimep (Núcleo Universitário de Cultura da Universidade Metodista de Piracicaba), Teatro Municipal Dr. Losso Netto, Secretaria Municipal da Educação e Ponto de Cultura Garapa.


A lista com os espetáculos indicados está disponível no blog fentepira.wordpress.com


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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

5º Fentepira agita cena teatral em Piracicaba

São 15 espetáculos teatrais e uma programação com bate papos, oficinas e palestras. E o que é melhor: tudo gratuito! Este é o 5º Fentepira (Festival Nacional de Teatro de Piracicaba). A abertura ocorre neste sábado, 20 de novembro, às 11h, na Praça José Bonifácio, com a peça O Santo Guerreiro e o Herói Desajustado, da Cia. São Jorge de Variedades.

A peça da Cia. São Jorge é uma releitura da tradicional história de Dom Quixote. A trupe busca despertar a reflexão sobre o sentido do herói nos dias de hoje na grande metrópole. Às 15h, o diretor do espetáculo, Rogério Tarifa, participa do debate O Teatro de Rua, aberto ao público, na Sala 2 do Teatro Municipal Dr. Losso Netto.

Ainda no sábado, às 20h, o Teatro Municipal recebe o Grupo Manto, de Sorocaba, com a peça Resumo de Ana, sobre a história de dois operários de vidas precárias e que são afetados pelo processo capitalista de industrialização.

No domingo, 21, às 11h, o Casarão do Turismo da Rua do Porto recebe Aconteceu no Brasil Enquanto o Ônibus Não Vem, do Grupo Arte da Comédia.

Também no domingo, às 16h, o Sesc Piracicaba sedia o bate papo O papel do artista nas discussões das políticas públicas da cultura, com o ator e diretor Celso Frateschi, diretor do Tusp (Teatro da Universidade de São Paulo).

Celso Frateschi


Esta edição teve 138 espetáculos inscritos, de grupos dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Ceará, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal. Dez grupos teatrais participam da mostra principal e concorrem a troféus-destaque em várias categorias. Há também dois troféus Voto Popular: destaque espetáculo adulto e destaque de espetáculo para crianças e adolescentes.

Após a apresentação de cada espetáculo, acontece um bate papo entre público, companhia teatral e comissão debatedora, este ano composta por Alexandre Mate, Daniela Biancardi e Moisés Miastkwosky.

Por que Criança Cozinha na Polenta


Demais paralelas 

Na segunda-feira, 22, é a vez de Dagoberto Feliz, Bete Dorgam e Esio Magalhães ministrar a palestra A Arte da Representação ou Como ser Verdadeiro Mentindo e Vice-versa, às 20h, no Salão Nobre do Colégio Piracicabano.

No sábado, 27, ocorre às 9h a Oficina de Playback, com o Grupo Dionísio de Teatro, no Colégio Piracicabano. E às 14h a Oficina de Butoh, com João Butoh, na Sala da Companhia Estável de Dança do Teatro. No mesmo dia foi programada uma sessão maldita, que tem início à meia-noite no Ponto de Cultura Garapa. Trata-se de Mostarda, protagonizada pelo ator Clóvis Torres.

A realização do Fentepira é da Secretaria Municipal da Ação Cultural. São apoiadores do 5º Fentepira a Arcelor Mittal e a Unimed Cultura. São instituições parceiras: Apite! (Associação Piracicabana de Teatro), SP Escola de Teatro, Sesi, Sesc Piracicaba, Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), Tusp (Teatro da Universidade de São Paulo), Senac Piracicaba, NUC-Unimep (Núcleo Universitário de Cultura da Universidade Metodista de Piracicaba), Teatro Municipal Dr. Losso Netto, Secretaria Municipal da Educação e Ponto de Cultura Garapa.



SERVIÇO 

5º Fentepira (Festival Nacional de Teatro de Piracicaba). De 20 a 28 de novembro. Mais informações: (19) 3433-4952, www.fentepira.com.br, www.fentepira.wordpress.com ou Twitter @fentepira. A entrada é gratuita.

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domingo, 14 de novembro de 2010

O Maior Festival de Música do Mundo

Esquete cômico escrito em 11 de abril de 2008 e apresentado em 26 de abril do mesmo ano no Pocket Show Maldito, no Teatro Wallace em Araraquara/SP.

"O Maior Festival de Música do Mundo de Todos os Tempos", mostra a grande final desse evento entre o mais famoso astro popstar americano e um mendigo brasileiro de origem desconhecida. Apresentado por César Sandoval, o apresentador mais famoso do mundo. Essa grande finalíssima é imperdível!

Download do texto:
O Maior Festival de Música do Mundo - Júnior Martinez.pdf

Vídeo da apresentação: youtu.be/rhqsQwjHiIY


quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Projeto Vida

(13 de novembro de 2001)

Não resta nada a dizer se a lembrança daquele tempo já se foi. O tempo em que se podia ser diferente sem despertar a atenção. Os monstros que haviam eram tão importantes quanto os pais. Os brinquedos eram tão importantes quanto a comida. E quando não havia o brinquedo, havia a imaginação, que já não há. E se há, é fraca.

A fada que era sonho, o castelo faz de conta, sempre existiram. Os heróis eram tão fortes que nada os derrubava, nem o grito da mamãe. Papai era um deles. O maior de todos os heróis. Os monstros do quarto só saiam quando papai entrava. E podia-se dormir tranqüilo. Podia-se sonhar e ter o que era sonho. Os amigos que vieram, e que foram os primeiros, faziam parte destes sonhos. Tinham medo dos mesmos monstros. E eram salvos por seus heróis. Tudo era festa. Até a comida que se transformava em qualquer coisa: matéria-prima para inocente arte. Duplamente arte. Pois era um "arteiro" e era um artista.

Nos rabiscos via-se o mundo. Via-se o universo. Ou um simples sol. Um sol amarelo, um sol azul, um sol verde. Um sol de todas as cores. Uma casinha, uma árvore, talvez algumas flores em volta da casa. E isso era tudo o que se desejava ter no futuro. Não se pensava em ter dinheiro. Tampouco ser o melhor. E muito menos fazer o mal. Só se pensava em ter uma casinha, perto de uma árvore, com algumas flores, onde o sol fosse bem visível. Um pequeno grande projeto de vida ainda no papel.

Mas o tempo não fica parado. Anda devagar, mas sempre anda. E esse projeto foi esquecido. Outros vão tomando seu lugar. Projetos dos mais variados tipos, fins, gêneros, causas e desvantagens. Projetos mais caros, mais devastadores, mais ambiciosos, menos importantes. A criança agora é homem, luta por dinheiro, por amor, por felicidade. Sem saber que a felicidade não é motivo de luta. Já a tem quem se contenta com a vida que tem. Mas esse homem não mais brinca, não mais sonha, nem o medo dos monstros existe. E esse medo que sumiu faz falta. Pois agora o homem se acha valente, o melhor, invencível. Cria guerras, destrói a natureza, mata o próprio irmão. Acaba com a própria vida. Faz todo o possível para não perder poder. E que poder é esse? Mais valioso que a vida. Que poder é esse? Onde não se pode ser humano. Com esse poder não se pode viver.

O homem cometeu tantos erros, que nem se lembra quais foram. Fez tanto mal, que nem sabe mais o que é bem. E aquele projeto de anos atrás já nem existe. Ficou no papel. E é apenas disso que o homem precisa. Uma casinha, com algumas flores, uma árvore e um sol para brilhar. É somente isso, algo tão simples para o homem ter uma vida, realmente vida. Mas ele não enxerga. E o que faz é cometer mais erros, fazer mais mal. Talvez enxergará quando não poder mais viver. Quando sua vida virar morte poderá ver o lastimável erro que cometeu. Quando lutou, matou e destruiu tudo o que podia para realizar projetos desumanos. Só era preciso ser humano, fazer o que estava no papel de criança, realizar o projeto vida.


"Quando o homem voltar a ser criança, o mundo voltará a ser paraíso"
 
 
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Já Estava na Hora

(Maio de 1999)

Na certeza de estar amando, você pode estar errado.
Os sentimentos quando fluem, vêm com aparências enganosas.
Nesses momentos você só pensa em por Ela ser amado.
E, às vezes, toma atitudes impensadas que podem ser perigosas.

Não há como provar que o que você sente é realmente amor.
Muitos o confundem com um "gostar um pouco mais forte".
Uma atração, que se interpretada mal, traz muita dor.
No meu caso, cheguei a pensar em morte.

O meu "amor" não foi correspondido.
A minha certeza era de que eu estava apaixonado.
De todas as formas eu tentei fazer com que fosse ouvido.
Mas ela não me ouviu, e me deixou muito machucado.

Há muito tempo eu não sei como é dormir tranqüilo.
Já estou cansado daquele meu travesseiro molhado.
Cansado de à noite parecer um velho pensativo, preso num asilo.
E de me encharcar com o choro que o coração me traz, ainda acordado.

O pior é que tudo isso, para mim, não tem mais fundamento.
A certeza de amá-la só agora foi embora.
Dúvidas e mais dúvidas rondam meu pensamento.
Devo sofrer menos... Já estava na hora...

:)

Paixão e Morte

(Março de 1999)

Estou apaixonado, e muito.
O amor é tanto que já me sufoca.
Faz meu coração agir por livre intuito.
Me deixa cego, surdo, mudo, me afoga.

É um sentimento sem fim,
Que vai tomando conta de mim.
Me incendeia de Ágape puro,
Me faz brilhar em pleno escuro.

Os sonhos com Ela já são constantes,
E a cada sonho mais amor eu tenho.
Me sinto em meio a negros amantes,
Escravizados no antigo engenho.

Temo morrer por isso.
Se morrer quero ser lembrado
Como um jovem apaixonado,
Que ignorou o mais caro ouro maciço,
Para poder ter ao seu lado
A pessoa com quem havia sonhado.

E quero que escrevam em minha sepultura:
“Apesar de ter vivido um guerra não vencida,
Ele morreu ignorando as amarguras,
Sendo um poeta, apaixonado, e amando a vida”.

:)
 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Culpado

(Março de 1999)

Me culpo por sofrer,
Me culpo por chorar,
Me culpo pelas noites em luar,
Me culpo por problemas não resolver.

Me culpo pela força da morte,
Me culpo pelo fogo que mata,
Me culpo pela vida ingrata,
Me culpo por não ser tão forte.

Me culpo pela morte alheia,
Me culpo por minha triste solidão,
Me culpo pela dor no coração,
Me culpo pelas lágrimas na areia.

Me culpo por tudo e por todos,
Me culpo pela caça perdida,
Me culpo pela razão esquecida,
Me culpo pelo uivo falso do lobo.

Me culpo pelo desejo de me matar,
Me culpo por você não me querer,
Me culpo por não conseguir te esquecer,
Só não me culpo, por eternamente te amar.

:)

Antes da Peça

Soa o terceiro toque. Sinal de que a peça vai começar. O público está quase todo acomodado e as luzes da platéia vão se apagando lentamente. Lá atrás das cortinas, na coxia, Lucas espera o seu momento sagrado de entrar em cena. Sagrado. Para ele o único motivo de estar vivo, era o de poder fazer teatro. E ele o fazia bem. Aquele momento, aqueles segundos anteriores ao início da peça Lucas conhece, e gosta. A primeira exposição ao público, numa peça, é sempre a mais importante. Na primeira exposição de um personagem o público já define se gosta dele ou não. E Lucas sempre começa a peça com todo seu calor, sua força. Não que no decorrer do espetáculo ele perca essa força, esse calor. Ele faz, maravilhosamente, uma apresentação linear, ou seja, da forma que começa ele termina. Parece que ele tem toda sua energia calculada para não terminar a peça com menos disposição de quando começou.
 
Nesses segundos anteriores ao começo da peça, Lucas pensa em tudo isso. E pensa ainda na platéia. Hoje o público vai ser grande, a bilheteria é livre. Hoje em dia só se lota uma platéia quando a bilheteria é livre ou quando o elenco é composto por artistas famosos de televisão. Lucas pensa na platéia. Pensa que dali pode não conhecer ninguém. Ele não sabe quem vai assisti-lo nessa noite. Ele nunca sabe. Mas ele lamenta, e sempre lamenta quando está para entrar em cena. Lamenta, pois naquela platéia, e em todas as platéias que já o assistiram, nunca em nenhuma delas esteve sentada a pessoa que ele ama. E lamenta mais, porque não existe essa pessoa. Até pode existir. Mas ele não conhece. E essa pessoa deixa um vazio enorme na vida de Lucas. Ele pensa que se esta pessoa estivesse ali, na platéia, sua apresentação seria bem melhor. Já é boa. Ele sempre é elogiado, por quem entende e quem só assiste. Mas esse pensamento, de que sua apresentação seria melhor, se sua amada, sua companheira, estivesse na platéia, permanece em sua mente.
 
Desde que abandonou sua última namorada, para vir para a capital fazer teatro, já se passaram um ano e cinco meses. Ele não se arrepende. Mesmo gostando muito da garota (não era amor!), ele resolveu vir para a capital. E não se arrepende. Lá onde morava, no interior, Lucas não poderia seguir sua carreira artística. Embora ele tivesse um bom emprego, uma namorada que o amava, e a promessa da mãe de lhe pagar a faculdade ali por perto, Lucas não estava satisfeito. Desde que tivera a primeira experiência no teatro há poucos anos, aqui mesmo na capital, Lucas não era a mesma pessoa. Na época estava com quinze anos e morava aqui com seu pai e sua avó. Seus pais eram divorciados, por isso não moravam juntos. Sua mãe morava no interior, e já era casada novamente quando Lucas veio para a capital. Ficou apenas um ano aqui, mas foi o suficiente para conhecer a arte do Teatro e para se apaixonar por ela. Durante seis meses ele participou de uma oficina, e descobriu sua vocação. Mas ao findar o ano, problemas de família o levaram a voltar morar com sua mãe. E deixar o teatro. No interior não tinha teatro, grupos, nem cursos. Teatro ali era uma coisa que pouca gente conhecia. Lucas ficou dois anos sem subir novamente num palco. Mas ele sabia que era isso que ele queria. Subir num palco. Fazer teatro. Então decidiu voltar para a capital, e levar a frente sua carreira artística. Demitiu-se do emprego de professor de informática, saiu da escola que estudava e conversou muito com sua namorada. Ele já havia pensado em casamento, mas o teatro o chamava. Eles sabiam que a distância, que não era pequena, não permitiria o continuar do relacionamento. Terminaram o namoro. E Lucas voltou para a capital. Fez novos cursos e menos de um ano depois de voltar, no ano de dois mil formou seu grupo de teatro. E há um ano e cinco meses ele estava fazendo teatro. Há um ano e cinco meses estava sentindo falta de uma companheira, seu coração pedia alguém para amar, além do palco.
 
Nesses poucos segundos antes de começar a peça Lucas voltou no tempo e viu o motivo de estar ali agora, prestes a entrar em cena. Viu toda a trajetória que o teatro o fez seguir. Ele pensava muito profundamente nisso, e por um momento até esquecera que iria apresentar uma peça. Lucas desperta desse transe com as cortinas se abrindo, as luzes do palco se acendendo e a platéia silenciando. Começou o espetáculo. Muita merda para nós!


- 11 de junho de 2001.